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quinta-feira, 29 de julho de 2010

Cultura Feminia solidão...

Recebi este e-mail e achei legal dividi-lo com vocês!!!!!

O que as mulheres fazem quando estão com elas mesmas
Ivan Martins


IVAN MARTINS
É editor-executivo de ÉPOCA

Ontem eu levei uma bronca da minha prima.
Como leitora regular desta coluna, ela se queixou, docemente, de que
eu às vezes escrevo sobre “solidão feminina” com alguma incompreensão.

Ao ler o que eu escrevo, ela disse, as pessoas podem ter a impressão
de que as mulheres sozinhas estão todas desesperadas – e não é assim.
Muitas mulheres estão sozinhas e estão bem. Escolhem ficar assim,
mesmo tendo alternativas. Saem com um sujeito lá e outro aqui, mas
acham que nenhum deles cabe na vida delas. Nessa circunstância,
decidem continuar sozinhas.

Minha prima sabe do que está falando. Ela foi casada muito tempo, tem
duas filhas adoráveis, ela mesma é uma mulher muito bonita,
batalhadora, independente – e mora sozinha.

Ontem, enquanto a gente tomava uma taça de vinho e comia uma tortilha
ruim no centro de São Paulo, ela me lembrou de uma coisa importante
sobre as mulheres: o prazer que elas têm de estar com elas mesmas.

“Eu gosto de cuidar do cabelo, passar meus cremes, sentar no sofá com
a cachorra nos pés e curtir a minha casa”, disse a prima. “Não preciso
de mais ninguém para me sentir feliz nessas horas”.

Faz alguns anos, eu estava perdidamente apaixonado por uma moça e,
para meu desespero, ela dizia e fazia coisas semelhantes ao que conta
a minha prima. Gostava de deitar na banheira, de acender velas, de
ficar ouvindo música ou ler. Sozinha. E eu sentia ciúme daquela
felicidade sem mim, achava que era um sintoma de falta de amor.

Hoje, olhando para trás, acho que não tinha falta de amor ali. Eu que
era desesperado, inseguro, carente. Tivesse deixado a mulher em paz,
com os silêncios e os sais de banho dela, e talvez tudo tivesse andado
melhor do que andou.

Ontem, ao conversar com a minha prima, me voltou muito claro uma
percepção que sempre me pareceu assombrosamente evidente: a riqueza da
vida interior das mulheres comparada à vida interior dos homens, que é
muito mais pobre.

A capacidade de estar só e de se distrair consigo mesma revela alguma
densidade interior, mostra que as mulheres (mais que os homens)
cultivam uma reserva de calma e uma capacidade de diálogo interno que
muitos homens simplesmente desconhecem.

A maior parte dos homens parece permanentemente voltada para fora.
Despeja seus conflitos interiores no mundo, alterando o que está em
volta. Transforma o mundo para se distrair, para não ter de olhar para
dentro, onde dói.

Talvez por essa razão a cultura masculina seja gregária, mundana,
ruidosa. Realizadora, também, claro. Quantas vuvuzelas é preciso
soprar para abafar o silêncio interior? Quantas catedrais para
preencher o meu vazio? Quantas guerras e quantas mortes para saciar o
ódio incompreensível que me consome?

A cultura feminina não é assim. Ou não era, porque o mundo, desse
ponto de vista, está se tornando masculinizado. Todo mundo está
fazendo barulho. Todo mundo está sublimando as dores íntimas em
fanfarra externa. Homens e mulheres estão voltados para fora, tentando
fervorosamente praticar a negligência pela vida interior – com apoio
da publicidade.

Se todo mundo ficar em casa com os seus sentimentos, quem vai comprar
todas as bugigangas, as beberagens e os serviços que o pessoal está
vendendo por aí, 24 horas por dia, sete dias por semana? Tem de ser
superficial e feliz. Gastando – senão a economia não anda.

Para encerrar, eu não acho que as diferenças entre homens e mulheres
sejam inatas. Nós não nascemos assim. Não acredito que esteja em
nossos genes. Somos ensinados a ser o que somos.

Homens saem para o mundo e o transformam, enquanto as mulheres
mastigam seus sentimentos, bons e maus, e os passam adiante, na rotina
da casa. Tem sido assim por gerações e só agora começa a mudar. O que
virá da transformação é difícil dizer.

Mas, enquanto isso não muda, talvez seja importante não subestimar a
cultura feminina. Não imaginar, por exemplo, que atrás de toda solidão
há desespero. Ou que atrás de todo silêncio há tristeza ou melancolia.
Pode haver escolha.

Como diz a minha prima, ficar em casa sem companhia pode ser um bom
programa – desde que as pessoas gostem de si mesmas e sejam capazes de
suportar os seus próprios pensamentos. Nem sempre é fácil

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